quinta-feira, 14 de maio de 2009

O começo é o que há (dia 1 - 14.maio)

Como já sabia que ocorreria, minha ansiedade passou no momento que eu entrei no ônibus para o aeroporto de Guarulhos.

Sem atrasos, check-in feito, desisti de comprar um livro naquela livraria ruim do aeroporto (já foi muito boa _ ou foi meu nível de avaliação que subiu?), mas acabei comprando um cartão pra fazer telefonemas desde o exterior da Telefonica, e na mesma hora me senti uma turista enganada em seu próprio país. E eu, que só queria um Eça pra ler em Portugal, fiquei com o Super15.

Rumo a sala de embarque, pensei em comer algo para a gastrite não gritar em meio ao oceano. Uma empanada custava 5 reais, e um mistinho de m*, exorbitantes 15,00! Cuidando do estômago, pensei, pensei. Empanada, plis. Dá na mesma, pelo tamanho e pelo conteúdo.

Sentei pra degustar sem pressa a empanada fajuta (e até boa). Ainda lá teria uma hora de espera. Ô, inveja daquele cara com o laptop. Percebi que a viagem também serviria como desintoxicação de internet, de computador, de Folha, de jornal, de mãe, de pai, de cachorro, de gás, luz, telefone, namorado que não existe, namorado que pode existir. De mim, até.

Aquela carninha que sempre cai da empanada me fez virar o rosto prum lado que seria improvável e não é que dou de cara com Seu Aurélio, o portugues-dono-da-padaria-da-frente-da-folha!

Não. Não é brincadeira:


paparazzing Seu Aurélio



Depois, encontrei a Palena, que namora o Jair, que tá em Barcelona, e é onde vou ficar lá por um tempo. Foi ótimo. Parecia a volta pra ilha de Lost, pra quem acompanha a série.

E embarcamos. Eu, acostumada com voos de madrugada, regados a muita barra de cereal, já tinha começado a me deliciar com o travesseirinho e a manta mais gostosinha do mundo que a TAP nos deu. E ainda tinha tipo uma TVzinha na poltrona da frente. Resultado: horas de diversão garantida. Era touch screen pra lá e pra cá, vários filmes pra escolher, tinha de tudo. Filmes, seridos, música, jogos. Adeus, minhas clássicas Palavras Cruzadas.

Escolhi ver "Gran Torino", do Clint Eastwood, pra ficar em boa companhia durante o voo (ainda não tive oportunidade aqui, mas quero saber como é que essa reforma ortográfica está a ser vista aqui). Depois, vi "O Leitor". Excelentes, os dois. Nesse último, chorei baixo e elegantemente até não poder mais.

Daí, tentei me virar pro lado e dormir, mas era impossível conciliar a dor na lombar com a tentativa zen de cair no sono. Portanto, fui-me à TVzinha. Não é que descobri um programa de culinária de Henrique Sá Pessoa, um moleque meio moderninho que leva um programa de culinária da RTP! (Aí, foi porco preto com amêijoas, comida goesa, uns peixes maravilhosos, batatas a murros e por aí vai. Impossível dormir.)

Além disso, a minha companheira de poltrona me contou que tinha recusado umas 50 viagens (pelo Brasil e pelo mundo) por medo de avião. Eu, relembrando Belchior internamente, segurei na mão trêmula dela e "Saravá"! Ela perdeu o medo e disse que de Lisboa vai pra Praga. Ponto para as mulheres, ponto!

Devo acrescentar que comemos legal> um goulash com arroz amarelo, uma sobremesa de nata e baunilha e coco, um vinho suave e presente, um pãozinho com manteiga. E de "pequeno almoço", com se chama café da manhã por aqui, uma omelete de presunto cru, com saladinha de frutas. E sempre tinha chá, que é meu mais novo vício depois da gastrite.

Passamos uma hora na fila de entrada em Lisboa. Achei ótimo o modo como eles abordam os que chegam: Como vai, és brasileira, que tens a fazer aqui, ah, estas em ferias, que fazes no Brasil, como, de novo, o que, diagramadora, que, como, de novo, ah, acertas as coisas nos jornais, é isso, agora sei o que fazes, sim, e porque viestes a Portugal, ah, em ferias, gostas do fado, gostas de ser velha, gostas tanto assim da comida, nao, aqui nao ha problema, é só não estares por aí a tirar fotos como uma tonta que nao há problema, não é como seu país, tchau, podes entrar.

E entrei. Adoro essa sensação. Devo me lembrar mais dela quando tenho ansiedade por causa de viagem. Aqui em Lisboa talvez não se sinta tanto a coisa de estar fora, de ser estrangeiro. Todos entendem MESMO o que você fala, e vice-versa. Mas de qualquer forma, estou com grana "pulverizada", em várias partes do corpo e da mala, e passaporte e voucher e papelinho e não-sei-quantos euros etc.

Comprei um tal de Lisboa Card, mas acho que fui enganada (o post seguinte pode dizer mais). Peguei o Aerobus e durante o trajeto, ia olhando no mapa, pra já começar a ficar familiarizada. Desci na Estação Praça do Comércio (que tá em obra, portanto fiquei mais próxima do albergue). Dali, foi andar 2 minutos (planos) e chegar.

O hotel chama Home, e é bem bacana. Na hora que cheguei (umas 10 da manhã daqui), não tinha quarto ainda e foi bom, porque teria caído dura na cama. Fui andar durante as duas horas que o Jorge me deu para uma cama limpa e deliciosa. Quando ele me disse seu nome, eu falei> Ah, Jorge, que nome lindo (e internamente, me senti protegida "sob as armas de Jorge"). Ele me respondeu> "Vocês, os brasileiros, têm um português doce". Viva Pessoa.

Bom, aí, saí pra caminhar, totalmente sem rumo e propósito. Fui andando, vendo as pessoas, ainda era muito cedo e eu achei que a cidade era calma. Cheguei na frente do Tejo, mas sem poedr vê-lo. Tá tudo em obra na Praça do Comércio, justamente pra tentar recuperá-lo.





O Tejo e eu>






Dali, tenho um monte de fotos legais, mas tenho que ser breve aqui.

Resolvi descobrir preços e horários para Cascais, Sintra e Cacilhas. Era algo que ia ter que fazer mesmo e já que estava podre para fazer qualquer roteiro, foi um coelho-cajadada a menos.

Saí, morrendo de preguiça e achando Lisboa um saco (mas eu já estava encantada com a Rua do Alecrim, das Flores, tantos nomes, tanta historia e tudo tao pessoal). Mas eu sabia que estava cansada e que meus olhos eram os de 24 horas desperta.

Esperei o meio-dia e entrei numa tasca simples na frente do Cais do Sodré, na Rua dos Remoleiros. O melhor polvo que eu já comi na vida. Quem cozinha sabe como é difícil fazer um polvo, acertar o ponto certo de "cozimento", como se diz acá. Não se pode deixar muito nem pouco, há toda uma arte que os portugueses dominam, porque foi o primeiro polvo que comi que simplesmente era tenro, mole, macio, derretia na boca, as impressões sensorias são difíceis de imprimir, mas eu digo que foi o melhor polvo que já comi na vida. Ele despedaçava, mas ainda firme e ele chegou em 15 min na minha mesa.




E foi o polvo mais um vinho da casa mais o couvert de pães e queijo saiu por 12,50. E o garçom ainda ficou meu amigo e meu deu o telefone dele "caso tu te sintas só". Ele tem esposa, por sinal.


Ainda tenho muito a falar desse primeiro dia. Mas já é tarde aqui, e quero ver o Castelo de São Jorge amanhã.

Pros que zombaram da minha mala, aqui faz 13 graus. Frio do caraças, como dizem acá.

Até já.

5 comentários:

Beatriz Antunes disse...

Várias coisas:

1) Como você escreve bem.

2) Por que "cozimento" é "como eles dizem acá"? No Brasil a gente não diz isso também? Pergunto porque não cozinhho, vai tem um jeito próprio pra exprimir o tempo que o polvo ferve, enfim.

3) Só quero viajar de TAP agora. Putz, vou ter que ir pra Europa!

4) "Não é como no teu país" foi algo bem antimpático pra se dizer.

5) Lisboa é um sonho antigo que, com as duas fotos in loco que vc postou, só ficou maior. Come a cidade toda por mim.

NHAC!

Brubris disse...

fefs! chegou bem aí? tem cuidado com os carteiristas, hahaha! que pena que a praça do comércio tá fechada, designers devem amar a simetria dela, cantada em todo o mundo. tô de olho nocê!

Max Costa disse...

Ai que bom que você chegou...
Você escreve bem mesmo! Dá vontade de seguir você pra todo lado. Pode deixar que estarei com você! Do jeito que você descreve as coisas (boas) elas ficam sensacionais.
Tua carinha de cansada é evidente. Hoje você já deve estar zerada.
Come tudo!
Devore tudo!
Não deixe um grão!
Debulhe esse Portugal velho!
Beijo!

Clayton disse...

hahaha, tô rindo sozinho aqui com o post e faço coro com o pessoal de cima: teu texto é ótimo! Mas que história eh essa de perguntar "gostas de ser velha"? Eita que entendi isso, não!

Giselle disse...

Estou com o Clayton, como assim velha???? Vou pra Portugal assim não...
Deixa a gastrite, a ansiedade e o seu Aurelio (ele tava indo pra Portugal, cliche de dono de padaria português).
Bjinhos!