quarta-feira, 24 de junho de 2009

Um dia de fúria (Dia 12 - 25.maio)

Saí de casa meio tarde. Meu plano do dia era ir à Montjuic.

Eu não sabia exatamente o que encontrar ali. Sabia pelo guia que era um morro, meio parque, com atrações turísticas e não-turísticas, com parque de diversões, Fundação Miró (uma das coisas pretendidas, mas que por ser segunda, estava fechado), umas construções da época das Olimpíadas de 92, o estádio do esqueci-o-time, uma fonte luminosa como a do Ibirapuera etc. Combinei de ir com o Gabriel, o amigo argentino que fiz no dia anterior.

Era a minha primeira experiência em 12 dias de viagem em que compartilharia com alguém as decisões de para onde-como-porque ir, visitar alguma coisa ou não, andar pelas ruas ou pegar ônibus, parar para comer ou tomar café, decidir se para esquerda ou direita. Por isso mesmo, podia ser bom e podia ser ruim.

Foi bom. Porque não tínhamos grandes expectativas, havia o mesmo sentimento de ir ver o que aquilo era e não havia cobrança, horários e compromisso, o que pode arruinar uma viagem. E ademais, eu estava muito cansada de falar inglês-espanhol-português-de-portugal e Gabriel ouvia pacientemente minhas palavras em bom brasileiro, que eu misturava com o espanhol.

Desse dia não tenho fotos, porque, por algum motivo, a câmera que deixei carregando durante a noite e mostrou a luzinha verde, ficou sem bateria. Gabriel ainda me deve as fotos dele.

Pegamos um ônibus até uma praça, acho que ali era a Plaza d'Espanya, onde parei numa lan house para ver a situação de troca de datas do hotel de Paris e da volta para São Paulo. Isso me afligia.

(Nessa altura, eu, que esperei tanto pra chegar a Barcelona, não via a hora de ir embora de lá. Coisas que acontecem em viagem. E aprendi ali que não é necessário gostar de tudo. Realmente, tive um problema com a cidade. Lisboa tinha sido perfeita, e eu queria seguir em frente, tinha mais 2 dias de apê do Jair e depois ia ter que ficar me virando naquela cidade que me parecia uma invasão de alemães, que era em muitos momentos um metrô lotado a céu aberto, isso por mais 5 dias, que me pareciam mais tortura que férias).

Gabriel tinha um notebook, mas precisávamos achar um lugar com "uifí" (como eles falam "uaifái"). Então, seguimos, independente disso, a caminhar e achar a escadinha que nos levaria a uma parte do cume do Montjuic.

Demos de cara com o tal do Poble Espanyol. Ô, coisa pra turista. Ruim. Eu não paguei por causa da carteirinha, mas depois, andando por lá, falamos sobre a roubada de 15 euros em que estávamos. Na verdade, eu não falava "roubada", eu falava "enganação", ou algo assim. Em português mesmo. E ele entendia, óbvio, porque os 15 euros dele é que doíam, enganados.

Esse treco é como se fosse uma vilinha, cada construção remete a uma região/país/cidade espanhola, e têm a construção "como se fosse" da data da plaquinha afixada na porta do estabelecimento, que vende "artesanatos", ou seja, imãs de geladeira etc. Difícil explicar, mas seguramente, não vale.

Pra não dizer que é horrivelmente nada a ver, a vista é maravilhosa. E tem um museu dentro, onde vimos umas esculturas do Dalí, umas gravuras do Miró, umas "cerâmicas" do Picasso (ele brincava de massinha às vezes) e umas contemporaneidades estranhas, mas divertidas quando olhadas em dupla. Isso porque eu tinha as minhas reflexões e pensamentos sempre só pra mim e meu caderninho, e pela primeira vez, podia dizer "joder! qué mierda eso, no?" ou "aaahhhh, mira eso!!". E falar sobre. Discutir. Rir. Etc.

Fora que me aproveitei do fato de ele ser hispano-hablante pra "pede pra mim?". E ele sempre começava ou terminava os pedidos com um "mi amigo" tão carinhoso que me sentia feliz em ser latinoamericana e não europeia.

Andamos prum lugar com uma construção cheia de nomes de presidentes europeus e uma fonte ENORME. Não era uma fonte, era uma cascata gigante, sei lá; um gramado lindo, um dia lindo. Depois, o tal estádio, o "bonde" pra descer a "serra", e chegar de volta à maluquice da Rambla.

Combinamos de ver um filme mais tarde, ele iria pro hotel e depois falaríamos. Fui pra "casa", e qual supresa: a fechadura (que já tinha problema mesmo, mas eu já sabia a manha) tinha sido trocada!!! Só que não havia um aviso nem nada sobre. E eu, com medo de quebrar a chave da casa alheia, comecei a tocar pelo interfone em números aleatórios para que alguém atendesse e eu explicasse a situação (je-sus, em espanhol da argentina, meio brasileiro...). Eram 23h.

Fernanda: "Hola, ¿qué tal? Desculpame, estoy en el primero isquierda, pero la llave no se puede, no sé qué pasa..."

Um homem começa a gritar pelo interfone: "*(@#()&@$&())p#@khdjkhsa&(*¨@#&*%$*@#$¨*("

Fernanda: "Cómo????"

Um homem continua a gritar pelo interfone:"*(@#()&@$&())p#@khdjkhsa&(*¨@#&*%$*@#$¨*("

Fernanda pensa: "Ai, caraças, que que eu vou fazer agora?????"

Eis que surge o anjo loiro que eu nunca soube o nome (Jair sabe), ela mora no predinho e tem um bar/restaurante embaixo e me viu na situação.

anja loira: "Hola, yo tengo la llave, es que cambiaran hoy, y no pusieron un afiche para que la gente que no estaba pudiera saber, dale, dale, que yo abro para ti"

Fernanda: "Ay, qué buenísimo, te agradezco mucho, ay, qué bueno, qué pasó, cambiaran y...?"

anja loira: "Si, si, estava como podrido, y cambiaron, no sé quién fué a darles las llaves a todos pero, claro, no pensó en lo que no estaban"

Fernanda: "claro, yo sali temprano... bueno, y ahora, qué hago?"

anja loira: "Dale, tienes que hablar con Pepito, del Atrio segundo"

Fernanda: "Pero, ahora? A las 23h?"

anja loira: "Si, no hay nada"

Fernanda: "gracias tanto, muchas gracias, fuiste maravillosa"

anja loira: "Voy a poner un afiche ahí, tienes razón"

etc.

O homem que gritava pelo interfone:"*(@#()&@$&())p#@khdjkhsa&(*¨@#&*%$*@#$¨*("
continuou, mas dessa vez eu encontrei com ele na escada. Era do meu tamanho, peludão, de regata, PUTO com a minha presença, parecia puto E catalão, porque apesar de eu falar e entender espanhol, aquele cara devia falar catalão, porque eu não entendia nada.

E não havia conversa mesmo: eu falava, ele respondia (na verdade, ele não parava de falar, desgovernada indignação), e a gente ia subindo os 5 lances de escada em busca de Pepito, o cara da chave.

Bati na porta do Pepito, o outro praguejando na minha orelha por 5 andares e um pouco de térreo: o Pepito abre a porta vestidinho com aquele pijama clássico branco com listrinhas azuis, camisa e calça. Super bonzinho e calmo e velhinho e me deu a chave e foi um doce, o Pepito. Me desculpei muito pela hora e ele só me devolveu em sorriso velhinho e listrado.

Nessa hora, eu achei que já estava com a razão, e comecei a descer, e então o baixinho peludo e mala ia parar. Que nada. Continuou, e eu " deve ser catalão aquilo, mas eu entendo catalão, não, não é possível, deve ser mouro, deve ser grego, deve ser bárbaro, de ser visigodo".

Seguimos descendo até o andar dele (segundo, terceiro?), e eu desci mais, até entrar em casa, e entrar direto no banho, pra tentar esquecer aquilo.

Impossível. Tomei banho, comi, falei com o Gabriel por SMS, mas na minha cabeça estava o #()&@$&())p#@khdjkhsa&(*¨@#&*%$.

Liguei pro Gabriel levar água mineral (essa coisa de água da torneira é coisa de europeu, eles bebem assim, mas o gosto é horrível, e eu quero é a mineral) e tal. Levou. E vimos Os Simpsons, O Filme. É ótimo ver como as nossas vozes são melhores, apesar de parecidas.

Mas na verdade eu vi só até a hora do "porco aranha". Dormi profundamente logo depois disso.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Modernismo e cinema (Dia 11 - 24.maio)

Pelo fato de estar numa casa de verdade, sem ninguém pra me ver acordar, tomar café e banho, pegar coisas na mala e essas coisas, acabei dormindo até mais tarde. Tarde mesmo, tipo 13h. A vida no hostel traz a vantagem de você acordar cedo. Eu odeio acordar cedo desde criança e me aproveitei do fato de que na primavera na Europa (deve ser o solstício) o sol se põe lá pelas 10 da noite. Então, um dia que começasse ao meio dia seria bem proveitoso no que diz respeito às horas de sol. Assim, em média, eu andava 10, 12 horas por dia. Saindo ao meio dia. Desfrutando as férias (dormindo) até o meio dia. E dormindo bem depois da meia noite. (Tem hífen essa coisa toda de meio dia e noite? Fiquei com preguiça de checar.)

Mas tem lugares que fecham às 18h, então eu tinha que ficar de olho no roteiro do dia seguinte sempre. E o meu dia 11 foi ótimo: casas modernistas, o bairro de Gràcia, um cineminha no "fim da tarde" e a volta a Barceloneta.

Ah, as casas modernistas de Barcelona. Que prazer.

Comecei pela Casa Amatler, onde acabei não entrando porque o dia era eterno, mas o horário de funcionamento das outras casas, mais interessantes, não. Ali, só comprei muitos chocolates pro meu irmão (Fred, tinha de todos os tipos, te imaginei lá..). A casa foi desenhada para um chocolatieur, chocolatedor, fazedor de chocolates, qué sé yo? E por isso, há chocolates maravilhosos ali.

Uma é do lado da outra. Da Amatler, fui pra Casa Batlló. Uma casa-casa que o Gaudí projetou pruma família cheia da grana (a família Batlló). Casa. De morar. Impressionante.

Eu digo isso assim IMPRESSIONANTE porque a coisa é desesperadora de tão linda em todos os detalhes. Minhas fotos não estão à altura, mas tem umas boas. No mínimo, engraçadas e parte da galeria "como tirar fotos de si proprio viajando sozinho".

A casa tem mil detalhes lindos e só estando lá; aí vão algumas fotos.


metalinguagem: a foto da foto. isso será retomado quando eu falar do Louvre.


pra você, Max, um sorriso (meio cansado...)


a fachada da Batlló


l




Da Batlló, segui para a Casa Milà, mais conhecida como La Pedrera.





ainda na batllò


a japa falou pra eu abrir os braços; pelo menos, foi o que entendi


(ainda é casa Batllò)

Fui ao cinema logo depois, flime "Genova", um filme ingles, dublado em espanhol. ótimo voltar pra casa depois (voltei andano, mesmo)

Andei tanto depois (voltei a pé) , que resolvi me dar de presente uma cava e uns pulpitos:


o garçon paquistanês tirou a foto de fernanda e a cava


pulpito prestes a ser comido


eles, pulpitos, ainda intactos

amanhã tem mais. conheci argentinos maravilhosos nessa noite. falo delesm amanhã.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

La vie en rose ou Um dia de dona de casa (Dia 10 - 23.maio)

Dormi no campo de concentração num colchão sem lençol ("las sábanas son 2 euros, guapa"), agarrada com minha mochilinha, de sapato e tudo. Queria que as 5 horas de sono passassem rápido pra eu correr pra casa do Jair. Difícil, pois ali onde fica o hostel A&A a galera fica nas ruas até altas da madrugada basicamente gritando e quebrando umas garrafas.

Devo dizer que não sou uma pessoa consumista. Quando cheguei em São Paulo, o que trouxe da viagem cabia numa mesinha de centro. Me divirto mais vivendo que comprando. Ou talvez seja, sim, consumista, mas de uma forma diferente. Basta ver que um mercadão me traz felicidade e eu trouxe um pedaço de porco defumado e trufado na mala. O problema é que dentre essas poucas coisas estavam um monte de enlatados maravilhosos que comprei em Lisboa (tem até ova de bacalhau), tinha os 2 vinhos que ganhei na degustação, tinha os malditos guias que eu levei a mais e não podia me desfazer porque são da biblioteca do jornal, um sapato e um tênis a mais etc. Muitos quilos.

(Depois piorou: o volume era o mesmo, mas o peso aumentava a cada cidade por conta de latas, garrafas, pedaços de porco. Por isso, em cada cidade eu deixei um monte de coisas: camisetas velhas que eu tinha pena de me desfazer, tênis idem, cosméticos, jornais e por aí vai, até um cadeado de bicicleta _ãhn, pra que eu levei isso? o medo de me levarem a mala no trem era tão grande??)

Então, por causa do peso não saí CORRENDO pro Jair, peguei um taxi mesmo, o primeiro da viagem, era perto, foi barato, mas o Jair não tava pronto, fiquei uma hora na pracinha olhando pro nada (mentira, eu li um jornalzinho inteiro, de dois dias antes, que tava jogado no canteiro) sentada na mala esperando a hora de tomar banho, abrir a mala, cortar as unhas, ligar a TV, dormir. E tirar a marca estranha que a cidade imprimiu em mim. A marca boa era pra ficar.

(A moda entre os jovens em geral em Barcelona, aliás, é uma coisa meio tuareg, meio arábia, meio moura, calças-aladim, sapatos de couro bruto costurados a mão, muito dread e panos na cabeça e pescoço _é bonito, mas fica feio ver TODO mundo assim na micareta).

Bom, recomendações feitas, explicações sobre o funcionamento das coisas, onde deixar chaves, telefone de um cara caso necessário e Jair seguiu pra sua viagem com a Palena. E eu quase chorei de emoção e arranquei tudo-tudo-tudo da mala e fiquei pelada, e continuei ouvindo o rádio que já tava ligado, e dancei e cantei, e comecei a lavar roupa (a máquina lavava E secava logo na sequência), e liguei a TV e comecei a adorar o catalão, sem entender nada e entendendo tudo, porque tem umas palavras iguaizinhas, mesmo na pronúncia.


O apê.

Passei a tarde arrumando coisas, separando outras pra deixar por Barcelona, organizando papéis, lavando muitas roupas, tirando esmalte, me divertindo com programas péssimos na TV. Daí, saí pra comprar água, comida, jornal (é, eu lia jornal). Andar pelo bairro da Barceloneta. Que é um bairro antigo, cheio de velhinhos que vivem ali desde que nasceram e vivem em situação difícil por conta do estado dos imóveis decadentes e sem ajuda do Ayuntamiento (a prefeitura) pra nada. E com uma invasão de turistas, que como "eu", alugam os apês na beira da praia para passar o calor europeu (ainda é primavera, no verão a coisa deve ficar pior pra eles, que reclamam muito do modo como as pessoas de fora se comportam. É assim em todo lugar turístico, na verdade.)

Estava quase tudo fechado, menos os mercadinhos dos paquis, que não fazem a siesta e costumam ficar abertos mesmo até a madrugada, dependendo do caso, do local e da natureza do estabelecimento. E ele me indicou um outro mercado onde eu poderia comprar verduras.

Então, a única refeição cozinhada por mim na viagem toda!

Os ingredientes:


Couscous marroquino, aspargos frescos, alcachofras, corações de alface.


Acompanhava um pão gostoso, um pouco de salame, um ovo (estava sentindo falta de comer ovo!), levava bastante alho e azeite tudo, que disso é feita uma vida boa. A saladinha com limão siciliano, e umas azeitonas com pimientos.

Nada muito sofistiquê, mas muito gostoso. Apesar de os aspargos e as alcachofras terem passado do ponto de cozimento, já que nunca tinha cozinhado num fogão elétrico, o que faz toda a diferença; eu não entendia como controlar a intensidade do calor, e mesmo depois de desligado, claro, ele continua quente. Mas ficou bom, ficou ótimo, ficou dos deuses, só porque fui eu quem fez e porque eu sabia exatamente o que estava comendo. E olhando agora, faltou cor nesse prato, Só tinha verde e amarelo!!

Descansei mais, dormi, e resolvi sair para dar uma volta mais tarde.

Do lado de casa, tomei uma caña escrevendo no meu caderninho, e ajudei o moço da mesa ao lado a se comunicar com o garçom, já que falava inglês e espanhol. Expliquei pro garçom o que ele queria e seguimos conversando.

Essa coisa de viajar sozinha é interessante, porque acabei conhecendo um americano-californiano de origem persa chamado Shar (é o diminutivo, o nome mesmo é Shahriar e eu tive que olhar no bloquinho). Ele estava num congresso de cardiologia, e eu, amante de todos os seriados médicos dos EUA, comecei a falar sobre E.R., Grey's Anatomy, Scrubs... Shame on us, porque nem ele era cirurgião e nem eu sabia tanto de medicina. E falamos bastante sobre a situação dos jornais nos EUA (que está periclitante), no Brasil, as diferenças técnicas, gráficas e jornalísticas e tal. Foi legal. O jornal e a medicina.

Saímos pra caminhar e tomar uma caña na frente das docas, lugar lindo. Tomamos mesmo só uma, porque o objetivo dele era ir pro cassino da Vila Olímpica e o meu, ir pro sofá-cama de casal com direito a TV e sanduichinho de salame pré-capotamento.


Eu e Shar, que disse ser republicano, capitalista e ter nariz de judeu, o que segundo ele, lhe confere sorte e dinheiro nas negociações de trabalho.

Sagrada seja. Amém. (Dia 9 - 22.maio)

Como eu disse, esse era o dia de me mudar para o segundo albergue. Era 2 euros mais barato, do "lado bom" da Rambla e me pareceu acolhedor, pequeno, pouca gente, dava pra usar a cozinha e também a internet de madrugada.

Cheguei cedo e dormi no sofá da salinha esperando o checkin. Pensei no plano do dia: Sagrada Família, Parc Güell etc até chegar a hora de conhecer minha nova acomodação. Bem, as instalações comuns era bem agradáveis, mas na hora de chegar no quarto vi que tinha mudado da cadeia pro... campo de concentração!! HAHAHAHA.




Acho que eram 10 ou 11 beliches. Não tinha armário, então ficava tudo espalhado pelo chão.
Olhem a quantidade de gente, minha gente!


Bom, seria só mais aquela noite. Já tinha combinado com o Jair minha estadia no apartamento dele, já que ele ia viajar por 4 dias. Fui em busca da loucura da igreja Sagrada Família, projeto que o Gaudí começou a tocar em 1883 e ainda não está terminado. E falta coisa ainda, viu?

Antes, passei no Mercado Boquería, ali na Rambla. Lindo, lindo. E as coisas ali dentro me fizeram voltar a ser feliz novamente.










Não dá pra colocar todas as fotos aqui, então dêem uma olhada no Picasa.


Isso preto à dir. são os Dátils que comi com o argelino.

Fiz um kit de tapinhas com vários tipos de conservas (azeitonas com amêndoas, azeitonas "cruas", peperoncino com queijo feta, azeitonas com anchovas em conserva, anchovas frescas, polvinhos, e coisas que tenho que olhar nas fotos pra lembrar). Dois pãezinhos e um bocado de jamon serrano (tirado direto da perna do bicho). Só faltou uma cava, mas preferi carregar uma garrafona d´água.

Daí, resolvi também arriscar num tour nesses ônibus turísticos. Fazia quase 10 dias que eu andava anaisano os mapas, descobrindo coisas, me perdendo (o que é ótimo), resolvendo roteiros etc. E já que estava naquela cidade tão turística (tinha umas horas meio aflitivas, parecia uma micareta sem fim), resolvi ser guiada e ver no que aquilo ia dar. E foi bom, porque esses ônibus você os pode tomar em qualquer paragem do roteiro e subir e descer quantas vezes quiser durante o dia. Assim, eu ia olhando as coisas, descansando os pés, matando a saudade do português da terrinha no áudio do busão, conhecendo histórias e dados que não conheceria. Lá fui.

Bom, não vou contar toda a história da Sagrada. Uma coisa que indico para quem for é pegar o aúdioguia na entrada (4 euros) e se deliciar com a explicação das coisas. Sim, porque TUDO, absolutamente TUDO tem um porquê. E é tudo muito lindo, louco e genial. Até pra subir no alto de uma das torres tem que pagar o elevador, mas vale a pena.


A fila do elevador.


A obra-prima e a obra-obra.


Ô, lá em casa... Eu quero esses picapedreros!


Can you please take a picture? (without the bus, PLEASE?)



O autorretrato ficou melhor.


Uma vista lá de cima.

Saí de lá bem feliz, apesar da horda de turistas e suas câmeras maravilhosas, e fui pro Parc Güell de busãotur. Lindo também, mas muito cheio. Achei um cantinho num gramado e parti pra minha farofinha deliciosa.



Nham!



sonequinha no Güell. Sério, em todo parque e praia etc, eu dormia de babar.

Saí do parque mais feliz e fui pegar o busãotur pra o Camp Nou, o estádio do Barça. Aliás, a cidade estava tomada por bandeira, bandeirolas, paninhos, panões, tudo que se referia ao time, que dali a 5 dias ganharia a Copa dos Campeões em cima no Manchester. Mas o estádio já estava fechado, então peguei o busãotur de volta para a Plaza Catalunya, donde fui para a Rambla comer carne pela primeira vez na viagem! Estava com preguiça de ficar procurando, então entrei no primeiro restaurante "para fumadores". É que diferente de SP, em Barcelona a coisa é inteligente e democrática: quem quer fumar, fuma, quem não quer, não fuma. Ponto. Então tem pra os dois gostos, e as pessoas decidem o que querem fazer. Ponto.

Aqui, comi o menu do dia (todo lugar tem isso, Lisboa, Barça, Paris, provavelmente outros países: é como um menu executivo. Você come uma entrada, um prato principal e uma sobremesa, em alguns lugares ainda tem vinho, água e café. E sai por uns 12 euros em média. E é comida para caraças!): gazpacho, vitela com cogumelos e fritas, troquei a sobremesa pelo vinho e tomei um cafezinho.




Eles são melhores nos pescados. Ou era esse restaurante que nem era tão bom.

Pronta para dormir e acordar cedinho para mais uma troca de casa. Dessa vez, só poderia melhorar.

Playa y Picasso (Dia 8 - 21.maio)

O segundo dia começou bem. Fazia calor em BCN. Passei num mercadinho, comprei um xampu com instruções em árabe (e era um Pantene qualquer, mas todos os mercadinhos de BCN são de indianos e afins), um queijo brie e um pão e fui pra praia ver o mediterrâneo. Y otras cositas mas.


Tem gente que vai de roupa...


...tem gente que vai sem.


Essa sunga vermelha era fio-dental.




Minha farofinha, com o jornal o dia.

Depois do lanchinho, do jornal e da soneca que tirei, fui pro Museu Picasso. Não sem antes encontrar pelo caminho essas figuras.


Não tive coragem de fotografar de frente. O mais velho parece estar de sunga, mas é uma tatuagem. E na frente, a tatto era de um elefante hindu, e vocês já sabem o que era a tromba (sem querer ser pornográfica, mas o tamanho era impressionante, quase até o joelho!!)


E já depois de ter voltado, colocando em dia a leitura dos blogs que acompanho, olha só o que encontro: esse cara estava lá no mesmo dia que eu. E ele teve a mesma impressão que eu sobre as coisas, então vale uma lida.

Bom, passada a primeira fase do dia. O Museu Picasso é bem bacana. Lá não podia tirar foto, então, não vai ter nada. Recomendo pra quem for. Fica num bairro bem bacana, que chama Born, e que tem um monte de lojinhas legais, e restaurantezinhos, e praças, e tal.

Tentei ir de lá para a Xampanyet, um bar-restaurante super famoso, onde se toma a Cava, um espumante espanhol que eles tomam que nem água. A bebida é barata e servida como rodízio, terminou o copo, tá cheio. O que encarece são as tapas. Mas quando eu cheguei lá às 19h (sim, porque na Espanha tem mesmo a siesta e a maioria dos estabelecimentos fecha das 16h às 19h) não havia lugar nem pra ficar na calçada.


Isso era durante a siesta.

Terminei o dia, então, com uns petiscos e fui dormir minha última noite na prisão. Tinha a esperança de ficar blogando durante a noite/madrugada, mas a internet na cadeia fechava à meia-noite. Fiquei conversando com o recepcionista argelino, que se irritou com minha citação a Camus e me deu uma aula de geopolítica argelina e da ocupação francesa. Ainda comi uns dátils (ver próximo post) com ele e fui dormir ouvindo o disco-depressão de Londres do Caetano. Me sentindo.


Patas de cranc (caranguejo) e vieiras com gambas (camarão). Y una caña. Klebo, amanhã tem carne!!

Barcelona e o choque (Dia 7 - 20.maio)

Quando saí de Lisboa, no dia 20 de maio, não imaginei o que estaria por vir.
Comprei a passagem numa dessas companhias aéreas low-cost, bem comuns na Europa. É como se fosse aquelas promoções de 50 reais para qualquer lugar da Gol, sendo que é como uma promoção eterna. Devo ressaltar que nunca consegui um voo desses da Gol, e no caso de Lisboa-Barcelona, não foi diferente. Não arranjei aquelas famosas de 1 euro, mas foi mais barato e mais rápido que ir de trem.

Em Lisboa ainda, reservei um albergue que me pareceu mais ou menos, era só para passar os 2 primeiros dias mesmo, todos os hostels em Barcelona estavam tomados, não tinha vaga pros dias que eu precisava e eu não percebi o que isso poderia significar. Só entendi chegando lá.

Desço na Plaza Catalunya, um ponto central de Barça, de onde se vai para todos os lugares e onde começa a famosa Rambla. Pois o grande calçadão era uma maluquice de gente pra todo lado, tava meio quente e tinha quase tanta gente por metro quadrado que uma micareta.

Queria deixar as coisas no hostel e ligar correndo para os 3 amigos que tenho morando lá: Jair, Gisele e Gerytsa. Foi o que fiz, e conversa vai, conversa vem, o que TODOS falaram foi: "Ah, voce tá na Carrer del Hospital? Olha, toma cuidado, essa uma rua que você não poderia ficar, tem muito paquistanes, indiano, putas, drogas e roquenrol, eles roubam mesmo, eu já fui assaltada, conheço um monte de gente que já foi assaltada, isso aqui está assim agora, mas tudo bem, você é de São Paulo, ah é, não, é só não andar com a bolsa aberta e tal, eles só pegam turista-otário mesmo ".

Eu pensei: "Peraí: quem anda com a bolsa aberta? Eu sou turista-otário? Por que eles estão me falando isso se eu não sou turista-otário e não ando marcando bobeira nem em retiro budista? Caraças, vou ter que redobrar a atenção".

A questão é que a partir daí, o que estava meio ruim comecou a ficar pior. Explico: além dessa suposta "violência" ("sim, porque te assaltam, mas não com armas, ninguém vai te matar"), o hostel que peguei no bairro do Raval era horrível pra quem vinha do de Lisboa (descobri depois que os da capital portuguesa são conhecidos como os melhores da Europa. No meu, até lavavam nossas roupas DE GRAÇA, por exemplo).

Parecia um presídio, sério. Não era um Carandiru, era uma carceragem mais ou menos. O quarto só tinha uma janelinha que dava para um muro e era tudo cinza e tinha um monte de adolescente falando inglês-italiano-alemão vomitando-gritando-correndo. Nada parecido com o que tinha passado em Lisboa. Nada.




LISBOA: no alto, o janelão ao lado da minha cama;
acima, a sala comum





BARCELONA: no alto, a janelinha da cadeia;
acima, um dos vários corredores estranhos
dos 4 andares (acho) da prisão


Saí pra passear, cansada (tinha acordado às 5 da manhã em Lisboa e era lá pelas 13h), eu já não conseguia mais ver nada como passeio, com a paranoia da mochila, fazendo cara de mau pra qualquer coitado da Ásia que olhasse pra mim. Mas ainda assim, lá me pus a andar, precisava ver a cidade que tanto tempo esperei para ver.

Comecei pelo Barrí Gótic, uma sucessão de ruelas minúsculas, um labirintinho gótico. Lindo. Meio aflitivo depois dos relatos sobre os paquis e o que ocorre nas ruelas, eu ainda não sabia que ali é o outro lado da Rambla e não é como o Raval. Depois de me perder seguidamente pelo labirinto, caí na rua da catedral de Barcelona, e de cara paguei os 5 euros de entrada (aqui em BCN consegui usar a carteirada em poucos lugares). Fiquei meio revoltada porque não achei nada de mais (tinha visto muita igreja em Lisboa) e comecei a me irritar com a cidade.


E ela ainda estava em obras!

Dali, fui comprar um chip pro meu celular pra ficar conectada com os amigos, e minha amiga Gi, da época da faculdade, que estava de 9 meses, foi me encontrar na frente do Palau de la Musica Catalana, onde comi minha primeira paella.


Gi com Alícia na barriga, e eu com a paella

Dali, saímos caminhando (estava programado para a Alícia chegar no dia 19, estávamos no dia 20) e conheci vários cantos legais. A cidade é pequena pra quem mora em São Paulo, e em pouco tempo, tínhamos percorrido um tanto de coisas, até que chegamos na praia, onde estavam Jair e Palena, hospedados na Barceloneta.

Nos encontramos também, nos despedimos de Gi e fomos andar, parando de vez em quando em hotéis, albergues, pensões e afins para ver se achava um lugar melhor pra ficar. Tudo lotado, ou caro, ou tão ruim quanto. Então, fomos tomar umas cañas (chopp) e comer! Batatas bravas, um prato típico catalão (são batatas com um molho BEM forte de páprica, adooooro!)


Um enquadramento esquisito d'a gente feliz no Born


Patatas bravas _e boas!

No fim, eles foram me deixar na rua dos assaltos e o Jair me disse que nem era tão mal assim, ele achou que fosse em outra parte. Mas naquela altura eu já tava influenciada.

Um artiguinho sobre o Raval, que passei a gostar depois de uns dias.